ENTREVISTA AO PILOTO HUGO MIGUEL | CAMPEONATO NACIONAL ELÉTRICOS 1/10 PISTA

CAMPEONATO NACIONAL DE ELÉCTRICOS | ESCALA 1/10 PISTA
Entrevista ao piloto Hugo Miguel

Depois da terceira ronda do Campeonato Nacional de Elétricos Escala 1/10 Pista (calendário da FEPRA – Federação Portuguesa de Radiomodelismo Automóvel) realizada na pista do CRAFF – Clube de Radiomodelismo da Figueira da Foz, que fica localizada em Maiorca, junto ao parque de merendas, conversámos com Hugo Miguel, a quem agradecemos a entrevista e desejamos um excelente resto de época.

O piloto do Clube RAC/CRB – Clube de Rádio Modelismo de Benfica após vencer a prova de Maiorca, ascendeu ao primeiro lugar do Campeonato Nacional (CN).

Hugo Miguel é um piloto experimentado e tem um palmarés invejável, onde se destacam o primeiro lugar em 10 campeonatos nacionais distribuídos pelas escalas 1/5, 1/10 200mm e 1/10 elétrico, entre outras participações.

Durante a conversa Hugo Miguel, que reside em Oeiras (Lisboa), conta-nos como começou nas lides do RC, impulsionado pelo pai e por um aficionado deste hobby. Diz-nos ainda que está focado em vencer o campeonato e como se sente entusiasmado em competir. Levanta um pouco o “véu” sobre a máquina que está a usar, bem como, sobre as técnicas que usa. Deixa ainda sugestões sobre a forma como se poderia impulsionar ainda mais esta modalidade que é muito apreciada por miúdos e graúdos.

Tablier Magazine: Há quanto tempo te ‘morde’ o ‘bichinho’ da competição? Há alguma história relacionada com a tua descoberta do rádio modelismo, por exemplo, lembras-te o que te trouxe para as ‘corridas’?

O meu pai teve a possibilidade de me mostrar o mundo do brinquedo técnico e desde criança, fiquei fã dos Legos Technic. Tempos em que não havia computador, nem forma de comunicar com o mundo exterior. Saía-me tudo da cabeça. Cortava peças e colava-as para criar o que a imaginação permitia. Tudo o que construía tinha que ter um motor elétrico com engrenagem para criar movimento.

Daí a passar ao RC, foi um pulo.

Em 1996 recebi um convite de Filipe Boucinha, ex-presidente do CRAP (Clube Radiomodelismo Automóvel de Portugal), para pilotar um modelo da escala 1/5. Foi assim que me iniciei na vertente competitiva, estreando-me em eventos nacionais e internacionais. Foi um mundo novo, toda a emoção, adrenalina, ansiedade e formigueiro na ponta dos dedos. Descobri em mim uma vertente competitiva e a vontade de vencer.

TM: Corres na escala 1/10, em pista e com um modelo de turismo – esta é a tua preferência por algum motivo especial? Participas noutras competições, esperas vir a participar, começaste mesmo por esta – gostávamos que nos contasses o teu trajeto em termos de competição.

Vivo este hobby com muita intensidade, dedicação e trabalho, sempre com o objetivo de ampliar os meus conhecimentos e consequentemente obter os melhores resultados a nível nacional e internacional. Nunca esqueçamos que é um trabalho de grupo e de partilha de informação, existem sempre várias pessoas envolvidas neste processo.

Atualmente, corro apenas com viaturas elétricas na escala 1/10, turismo e todo o terreno, que se caracterizam por terem afinações muito pormenorizadas e uma condução muito apurada. O conceito de prova é muito diferente comparando com modelos de motor a combustão, assemelha-se mais a um sprint do que endurance, pois as finais decorrem em períodos de 7 minutos, enquanto na combustão oscilam entre os 30 e os 45 minutos, dependendo da escala. Torna tudo muito intenso e não permite um piscar de olhos.

Venci no total 10 campeonatos nacionais, iniciando tais vitórias, na escala 1/5, seguido de 1/10 200mm e finalmente 1/10 elétrico:

– 1997 a 2002 na escala 1/5;

– 2003 e 2004 na escala 1/10 200mm;

– 2011 e 2012  na escala 1/10 elétricos na categoria de modificados;

Outros feitos, nomeando apenas alguns que destaco:

1995 – vencedor do troféu Serpent 1/10 235mm

1997 – vencedor da Taça de Portugal 1/5

1998 – vencedor Troféu EFRA 1/5 realizado na pista do Monsanto, com a presença dos principais pilotos de fábrica

2000 – 8.º lugar campeonato europeu 1/5, Aústria

2001 – 12.º lugar no 1.º campeonato do mundo de 1/5 realizado em Ettlingen, Alemanha

2003 – vencedor da Taça de Portugal 1/10 200mm

2003 – 15.º lugar Campeonato Europeu 1/10 200mm, Vila Real

2004 – vencedor da Taça de Portugal 1/10 200mm

2010 – vice-campeão de 1/10 elétrico

Gostaria de deixar um agradecimento especial a vários colegas e amigos, que, ao longo da minha carreira, de diversas formas tornaram possível o meu sucesso nas diversas escalas, que são: Filipe Boucinha, Jaime Almeida, José Sousa, José Pires e seu pai, Mário Portugal, Carlos Faria, Joaquim Birrento, família Sykes, Luís Cerqueira, João Henrique Angeja, Rafael Murjal, Luís Simões, Rolando Caseiro, Ricardo Ferreirinho, entre muitos outros. E claro, ter uns pais fantásticos, que sempre me apoiaram na prática deste hobby!

TM: Indica-nos qual o equipamento da tua preferência para competir? Qual a tua escolha de chassis, motorização, comando, se tens aspirações neste campo, enfim tudo o que achares relevante – sem revelares os teus truques.

Este ano optei por experimentar um conceito radical, apresentado pela Serpent, chamado Project 4X EVO, motor Hobbywing, e a minha marca de eleição para emissores é Futaba. Já me estou a ambientar melhor com o novo chassis e consegui arrecadar já um 1.º lugar na 3.ª prova do CN, que mostra o grande potencial deste modelo com baixíssimo centro de gravidade e suspensão revolucionária.

TM: Impressões do teu setup para este ano? Depois da 3.ª prova pensas que já tens a plataforma estabilizada e no máximo rendimento ou ainda há muito espaço para evoluir?

O setup em cada prova tem-se mostrado um pouco inconstante devido a caraterísticas específicas do pneu de controlo adotado. A sua construção e tipo de borracha são muito diferentes dos pneus de anos anteriores, portanto todos os pilotos andam ainda à procura de extrair o rendimento máximo deste pneu, que de forma geral funciona bem. São muitas variáveis interligadas, temperatura, humidade, afinações, preparação dos pneus. Vence quem descobrir o equilíbrio para ser consistente e rápido, durante todo o evento.

TM: Após venceres a prova realizada em Maiorca lideras o campeonato. Qual é a tua expectativa para o que ainda falta?

Estou a lutar com todas as forças para obter o lugar cimeiro. Restam 2 provas e a seguinte é em Vilar de Luz, Maia, onde me sinto pouco confortável em 2 pontos do circuito. A última é em S. João da Madeira, e será apenas uma questão de acertar com o setup, pois nessa pista rolo com tranquilidade. Está tudo em aberto, este ano será uma roleta russa até ao último segundo de prova.

TM: “O nível de competitividade está muito elevado” – é recorrente ouvir esta frase nos meandros das boxes. Qual é a tua opinião?

Sim, é verdade. Penso que ainda me consideram no meio, como um piloto de referência, entre outros. Embora nesta escala eu tenha muita dificuldade em compreender alguns “truques”, nomeadamente no tratamento dos pneus. Consequentemente põe em causa toda a sequência lógica de afinações, a fim de obter o melhor desempenho. Também já venci um campeonato nacional em 2012 onde também participou o nosso melhor e campeão do mundo Bruno Coelho. Foi o campeonato mais intenso até à data, Agora é piloto de fábrica, imbatível e de outro planeta!

Por isso tudo, penso que temos uma linha para nos nivelarmos e acharmos que o nível é alto.

TM: Consegues dar-nos uma ideia dos teus custos de participação por corrida?

25 euros de inscrição, 25 euros jogo de pneus até 2 no máximo, média de 35 euros para estadia, mais as deslocações que partilhamos e a comida. O desgaste normal do modelo é quase nulo nesta categoria, as baterias fazem uma época e o motor também, se monitorizarmos a temperatura máxima de funcionamento.

TM: Já alertámos o público em geral para a possibilidade de assistir a este tipo de eventos, sem custos. Na tua opinião o que poderia ser feito para dinamizar uma maior afluência?

Por exemplo, no Japão e recentemente na China, este hobby foi introduzido nas escolas, como atividade complementar. Tem professores que coordenam a montagem dos modelos, ensinam a soldar, a usar ferramentas, a compreender a mecânica. Desta forma atraem familiares e amigos, canalizam uma percentagem da população não só para assistir como também a participar. Poderia ser uma solução…

Outra seria a realização de eventos em escolas, centros comerciais, em locais onde decorram eventos à escala real.

TM: Este passatempo contribui para o teu bem-estar ou, com a competição, sentes que é mais uma forma de ‘stress’? Recomendas esta atividade a quem nos lê?

Como hobby contribui para o meu bem-estar, embora nos dias de competição tenha um desgaste físico e emocional elevado. Tento fazer desporto, correr 1 ou 2 horas por semana, faço alguns exercícios criados por mim para manter os reflexos e elasticidade nos dedos, mãos e braços, para compensar as horas que estamos de pé nas boxes e no palanque a conduzir com o telecomando. Necessito de praticar desporto porque me descontrai e lava a mente.

O ENTREVISTADO NUM MINUTO

Nome: Hugo Miguel
Idade: 45
Naturalidade: Portuguesa
Reside: Oeiras
Preferências pessoais
Hobby: RC, BTT, SK8, nadar
Livro: nenhum em particular gosto de ler sobre cultura viking, astronáutica, astronomia, mecânica, culinária
Disco/músico: “We don´t need another hero” / Anna Mae Bullock
Filme: “Caçador”
Comida/Prato: Salmonetes grelhados, petiscos
Praia: Porto de Mós, Lagos
País: Áustria
Férias: Fazer praia, ir ao cinema, viajar
Viagem que gostava de fazer: Japão
O que o inspira: Os 4 elementos da natureza, sol, terra, ar, água

#TablierMagazine

Para mais informações sobre as provas deste campeonato consulte a página da FEPRA onde pode encontrar esclarecimentos sobre os clubes organizadores: Clube RAC/CRB – Clube de Rádio Modelismo de Benfica, RAC – Clube Radiomodelismo São Domingos de Ranas; AAC – Associação Académica de Coimbra – Secção de Radiomodelismo; CRAFF – Clube de Radiomodelismo da Figueira da Foz; ARMAIA – Associação Recreativa de Modelismo da Maia; ACRP – Clube Radiomodelista do Porto.

A próxima prova realiza-se nos dias 7 e 8 de julho – pista de Vilar de Luz, Maia (clube anfitrião ARMAIA – Associação Recreativa de Modelismo da Maia).

Related posts