ALMA DE VIAJANTES | ENTREVISTA AOS PROTAGONISTAS DA SOUL EV EUROPEAN ELECTRIC TOUR: GLÓRIA E MANOLO

Esta peça podia ser sobre Eva e Adão, sobre Inês e Pedro, mas é sobre outros dois nomes há muito ligados e incontornáveis no panorama das viagens e da paixão por automóveis: Glória e Manolo.

Quase a partirem para mais uma aventura (23 de abril às 11h00 do Farol do Cabo da Roca, num ação que conta com a colaboração da Marinha Portuguesa), fomos tentar perceber o segredo desta “dupla” nómada, tão experiente como carismática e responsável, e aqui fica o resultado. A SOUL EV EUROPEAN ELECTRIC TOUR não podia ter tido modelo com melhor designação – alma de nómada é o que não vai faltar, do Cabo da Roca até ao Cabo Norte, sem fumo.

Estaremos atentos ao desenrolar da viagem e, acreditamos, também quem nos lê vai ter mais um motivo de interesse no nosso endereço: Tablier.PT. É um prazer enorme conhecer seres humanos desta envergadura.

À Glória e ao Manolo Oliveira, agradecemos a entrevista e desejamos que tudo corra ‘sobre rodas’.

TablierMagazine: As viagens, juntos, são uma consequência da vossa atividade ou “a verdadeira paixão” (que vos move, literalmente)?

A paixão pelas viagens nasceu muito antes dos automóveis. Casamos há 42 anos e, nessa altura, nem eu nem a Gloria tínhamos carta de condução, muito menos carro. Mas já partilhávamos o gosto pelas viagens.

A vida é um conjunto de rituais e as viagens são um desses rituais. Tal como a cultura, as viagens servem para nos enriquecer como pessoas; tornamo-nos mais tolerantes, abrem-se outros horizontes. O mundo torna-se mais real quando conhecemos a opinião de outras pessoas completamente diferentes de nós; geografias, dogmas, preconceitos, sonhos, religiões…

Além disso, a nossa profissão (Jornalista) encerra esse encanto.

TM: Colocas a cultura ao nível das viagens?

Viajar é cultura. Mas, quando arrisco a analogia, quero dizer que quer a cultura quer as viagens, não são motivo de exibição. Nós, não viajamos para mostrar que viajamos muito (nem sequer viajamos muito). Viajamos, porque sentimos intrinsecamente que temos essa necessidade de valorização pessoal, necessidade desse ritual de passagem enriquecedor e, na nossa opinião, uma sensação sublime, quase épica. Durante um período pós 25 de abril muita gente, os chamados pseudointelectuais, usavam a cultura para se exibir, para se destacar. Agora já não é bem assim. A mesma coisa acontece com as viagens. É comum ouvir muita gente dizer que conhece não sei quantos países, que tem não sei quantos carimbos no passaporte (alguns até fazem questão de ficar com os passaportes), mas será que conhecem verdadeiramente esses países? A visão turística de um país é muito diferente da realidade.

TM: Há quem sustente que é fator de desgaste para qualquer relação partilhar, além da vida pessoal, o trabalho profissional. Concordam?

Quer a nível pessoal, quer a nível profissional, a rotina pode gerar desgaste e complicar uma relação. Felizmente, não existem relações perfeitas e uma relação só é boa, quando é boa para os dois. Como sabes, a vida de jornalista é imprevisível e não tem horários. No nosso caso que partilhamos, por opção, a vida profissional, temos as mesmas alegrias e os mesmos problemas que toda a gente tem, mas damos poucas hipóteses à rotina. Não temos dois dias iguais, dois horários iguais. Quem tem alma de viajante…

TM: Esta é mais uma viagem que encaixa na vossa premissa “Somos amantes das viagens sem pulseirinha nem bar aberto”. Como surgiu a ideia de ligar o Cabo da Roca ao Cabo Norte, ao volante de um Kia Soul EV?

Quem tem alma de viajante, está sempre a magicar, a planear, a sonhar. É uma “religião”. Tínhamos acabado de fazer um trabalho para a KIA o qual designamos por “Um elétrico chamado desejo” que correu muito bem. O Diretor-Geral da KIA PORTUGAL (que está par das nossas viagens pelo continente africano) disse-nos em jeito de brincadeira: “vocês deviam era levar um Soul elétrico para as vossas aventuras em África”. Aquela frase ficou registrada, e algum tempo depois estávamos a apresentar este projeto.

TM: Como decorreram os preparativos para esta aventura “SOUL EV EUROPEAN ELECTRIC TOUR”, que tem a Kia Portugal como parceira?

Costumo dizer que a viagem está muito bem planeada até ao dia da partida, a partir daí… estamos numa Europa cada vez mais previsível e a internet tornou o mundo mais pequeno, tudo está mais facilitado. Recordo-me que quando começamos a viajar em África nem sequer existiam GPS e as cartas topográficas eram muito raras. Existiam algumas russas imperceptíveis. Hoje em dia é completamente diferente, baseamos a preparação da viagem na aplicação Charge Maps que é muito completa e está constantemente em atualização.

TM: O Kia Soul EV que vão utilizar tem algum equipamento específico?

A única alteração foi a decoração e a colocação de um localizador CARTRACK (um dos nossos patrocinadores), para proporcionar, por exemplo, aos teus leitores a nossa posição em tempo real.

TM: Serão 12 000 km de aventura. A preparação foi, certamente, cuidada, mas imprevistos acontecem. Que expetativas possuem, que contrariedades esperam encontrar e em que soluções já pensaram – se é que podem levantar a ponta do véu?

Numa condução partilhada, o nosso objetivo é percorrer, no mínimo, 500 km por dia. À partida sabemos que vamos encontrar algumas contrariedades, como por exemplo, um carregador que está avariado e não está assinalado (em Portugal acontece muito) ou que está ocupado e vamos ter que esperar para carregar. Além disso, temos um problema identificado na Polónia: temos um percurso entre dois carregadores que perfaz 400 Km e nós só temos autonomia para 250. Vamos ter que contar a simpatia dos polacos para nos ajudar a ultrapassar este obstáculo.

TM: A partida é dia 23 de abril às 11h00, no Farol do Cabo da Roca, numa ação que conta com a colaboração da Marinha Portuguesa. A ansiedade já se faz sentir, apesar de terem experiência acumulada no que toca a viagens? Esta é “A Viagem” ou destacam outra(s) que tenham realizado?

Viajamos há mais de 45 anos. Neste momento, esta é a viagem! Desfrutar o máximo deste ritual de passagem é a nossa estratégia. É uma viagem pelo continente europeu, e como sabes, não tem o exotismo nem os riscos de viagens noutras latitudes. Não é a mesma coisa do que estar nas Montanhas do Virunga a interagir com gorilas; subir ao vulcão Nyragongo e passar a noite à borda da cratera incandescente ou assistir à subida das águas no Delta do Okavanco, no Kalaari. Momentos marcantes que nos emocionaram até às lágrimas. Mas esta viagem tem outros objetivos.

TM: A escolha por um veículo exclusivamente elétrico torna esta viagem um desafio e, seguramente, ajudará a desmistificar a ideia de que um veículo elétrico só serve para quem dá “umas voltinhas” estando limitado na sua utilização. Há outros objetivos? O que poderá esperar quem vos seguir até lá?

Os veículos elétricos não são feitos para longas viagens. A maioria das pessoas se querem ir à Noruega, apanham um avião e em poucas horas aterram em Oslo. A questão é que a mobilidade elétrica é uma das soluções para minimizar o impacto que a civilização está a ter no meio-ambiente. Temos que reduzir as emissões, e por muitas cimeiras que façam, se não fizerem nada de concreto, não serve de nada. Por outro lado, existem uma série de mitos sobre os carros elétricos que convém desmistificar. Em 2004 comprei uma televisão de Plasma, todos os amigos me diziam que era um problema, volta não volta tínhamos que encher o plasma, que era caríssimo, enfim. O que é certo é estamos em 2018 a televisão está impecável, nunca precisou de qualquer reparação ou manutenção.

Os carros elétricos são a mesma coisa. Fala-se muito das baterias, mas a duração de uma bateria (salvo raras exceções) tem o mesmo período de vida dos automóveis. Também já ouvi dizer que os carros são elétricos, mas não são alimentados com a chamada “energia limpa” (geradores voltaicos ou painéis solares), pois não. Mas a questão não é acabar com a poluição, pensar que se pode acabar com a poluição é puro lirismo. Desde a descoberta do fogo, passando pela invenção da roda, os primeiros passos na Lua até à não menos fabulosa invenção da internet, a Terra sempre teve a capacidade de se regenerar, até que a partir de certo momento, aparentemente, perdeu essa capacidade.

O nosso grande objetivo deve ser reduzir o impacto ambiental de forma que a Terra continue a ter essa capacidade de se regenerar. E os carros elétricos são uma válida solução (pode não ser a única) para minimizar as emissões de partículas. A utilização de um carro elétrico no dia-a-dia é perfeitamente viável. Além disso, exige uma condução mais tranquila e racional. Nós temos hábitos muito maus e que contribuem, sem razão, para aumentar a poluição. Dou-te um exemplo: na Suíça, uma pessoa que esteja, por exemplo, à porta de uma escola à espera de uma criança com o carro em ponto-morto, é penalizado com uma multa bastante pesada: está a gerar emissões sem necessidade nenhuma.

A nossa viagem tem como objetivo sensibilizar as pessoas para todos estas realidades.

Glória e Manolo Oliveira / D.R.

#TablierMagazine

 

Related posts